Operação Blasfêmia: polícia desmantela golpe religioso com promessas mirabolantes no RJ

Investigação revela central de telemarketing que cobrava por curas, prometia milagres e movimentou milhões no esquema de “fé lucrativa”
Operação Blasfêmia: polícia desmantela golpe religioso com promessas mirabolantes no RJ

Operação Blasfêmia: polícia desmantela golpe religioso com promessas mirabolantes no RJ

Investigação revela central de telemarketing que cobrava por curas, prometia milagres e movimentou milhões no esquema de “fé lucrativa”
Pessoa orando sobre boleto e igreja ao fundo
Imagem ilustrativa

A Justiça e a Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagraram a Operação Blasfêmia nesta quarta-feira (24/09/2025) para combater um complexo esquema de estelionato religioso que atuava a partir de call center cristãos. O grupo, liderado por um pastor conhecido nas redes sociais, é acusado de lucrar milionariamente ao prometer milagres condicionados a pagamentos de fiéis.

Durante as buscas, foram apreendidos aparelhos eletrônicos, dinheiro em espécie, moedas estrangeiras e armas, além de documentos que indicam movimentações superiores a R$ 3,3 milhões nos últimos dois anos. As investigações confirmaram uso de contas de terceiros, falsas identidades e atuação coordenada através de scripts de atendimento.

Como funcionava o esquema “religioso” disfarçado de telemarketing

Segundo o site oficial da Polícia Civil do RJ, a quadrilha operava por meio de uma central de telemarketing sediada em Niterói, enganando vítimas com promessas de cura e milagres em troca de pagamentos. Valores cobrados variavam de **R$ 20 a R$ 1,5 mil**, conforme o tipo de “oração” ou “intervenção espiritual” oferecida.

Operadores fingiam ser pastores ou líderes espirituais, utilizando áudios gravados e discursos padronizados para convencer fiéis a transferir quantias. Muitos atendentes sequer tinham vínculo religioso com o grupo, sendo treinados exclusivamente para desempenhar esse papel.

Para dificultar rastreamentos, o grupo mantinha uma rede de contas em nome de terceiros e usava cartões telefônicos e chips pré-pagos para multiplicar as linhas de atendimento.

Descobertas da operação e materiais apreendidos

Na ação policial, foram apreendidos **52 celulares, 6 notebooks, 149 chips pré-pagos**, além de quantias em dinheiro e moedas estrangeiras. Também foram encontradas **armas de fogo** nas residências ligadas ao líder do esquema.

A Polícia Civil determinou ainda o bloqueio de contas bancárias, sequestro de bens vinculados ao esquema e uso de tornozeleira eletrônica para o pastor principal denunciado.

Líderes e repercussão midiática

O líder central do esquema ostentava presença expressiva nas redes sociais, com milhões de seguidores, o que facilitava a captação de fiéis.

A CNN Brasil destaca que o esquema prometia milagres em troca de valores e movimentou ao menos R$ 3,3 milhões nos últimos dois anos. 

O site da Polícia Civil do RJ ressalta que **o que motivava a organização não era religião, mas sim exploração financeira da fé**, caracterizando crime grave contra vulneráveis.

Aspectos legais: de onde sai a linha tênue entre fé e crime?

A investigação aborda delitos como: **estelionato, associação criminosa, charlatanismo, falsa identidade, lavagem de dinheiro e crime contra a economia popular**.

Embora a arrecadação de dízimos e ofertas seja protegida pela liberdade religiosa (constitucionalmente garantida), o que ultrapassa o limite é justamente o uso de fraude, manipulação e promessa condicional de bênçãos.

Os líderes do movimento responderão judicialmente e terão medidas cautelares como monitoramento e bloqueios, enquanto as investigações continuam para identificar vítimas e demais operadores do esquema.

Impacto para o público religioso e a sociedade

Para crentes e comunidades de fé, esse escândalo traz lições dolorosas: a existência de “mercadores da fé” que se aproveitam da busca espiritual das pessoas para enrichimento ilícito.

Há também preocupação com a confiança abalada nas lideranças religiosas, sobretudo em um contexto em que tantas pessoas buscam consolo, cura e respostas espirituais. Esse tipo de esquema cria desconfiança e feridas no corpo de Cristo.

Socialmente, a operação reforça que o crime pode se manifestar em formas sutis — onde discursos espirituais são armas de manipulação em vez de consolo genuíno.

Recomendações para fiéis e comunidades religiosas

Diante desse tipo de golpe, algumas orientações de cautela se fazem importantes:

  • Desconfie de “promessas milagrosas” condicionadas a pagamentos;
  • Exija transparência de líderes e gestão financeira;
  • Prefira igrejas que prestem contas públicas de ofertas e dízimos;
  • Busque referência bíblica e teológica, e não milagres isolados;
  • Denuncie práticas abusivas às autoridades competentes.

A Operação Blasfêmia expõe uma faceta sombria do que pode se esconder por trás de discursos de fé: a exploração do vulnerável em nome de promessas vazias. A ação policial e judicial é um passo decisivo para responsabilizar líderes fraudulentos e resgatar a dignidade das vítimas.

As investigações seguem em curso, com possibilidade de novas fases e revelações. Fiéis, líderes e a sociedade como um todo devem acompanhar com atenção, cobrar transparência e vigilância espiritual


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