Quando a fé encontra o risco: evangélicos e apostas online
Uma sondagem realizada pelo Instituto PoderData entre os dias 27 e 29 de setembro de 2025, com 2.500 pessoas em 178 municípios de todas as regiões do Brasil, revela um dado inquietante: 41% dos evangélicos declaram já ter apostado online (bets), enquanto entre os católicos esse índice é de 34%.
O estudo também perguntou aos entrevistados que já haviam apostado se chegaram a contrair dívidas — e o resultado foi o mesmo para evangélicos e católicos: 35% de ambos afirmaram já ter endividamento ligado aos jogos de azar.
Essa diferença de comportamento entre dois grupos religiosos que, em muitos contextos culturais, adotam visões críticas a jogos de azar, chama atenção para tensões e desafios no meio cristão. Em 2024, o cenário era diferente: naquele ano, 29% dos evangélicos afirmaram já ter apostado, contra 22% dos católicos, e o endividamento era menos expressivo (21% entre evangélicos, 12% entre católicos) conforme pesquisa anterior do PoderData.
Além disso, o levantamento nacional aponta que, na população geral com mais de 16 anos, aproximadamente 36% já usaram plataformas de apostas online, o que representa um salto em relação ao dado de 2024 (24%).
Implicações para a fé e para a comunidade cristã
Esses números geram inquietação e provocam algumas reflexões importantes para a Igreja evangélica e para os crentes:
- Quando a teologia acolhe valores morais, mas a prática individual contradiz — como lidar com essa disparidade?
- Como conscientizar jovens e adultos sobre os riscos sem cair no juízo condenatório?
- Que papel têm os líderes, igrejas e comunidades na prevenção e apoio aos que sofrem com vício em apostas?
Mesmo sendo tema delicado, é necessário que as igrejas incluam esse tipo de debate em suas pautas de vida comunitária, ensinamento e suporte espiritual. O silêncio pode abrir espaço para sofrimento oculto.
Por que o aumento ocorreu?
Há fatores sociais, culturais e regulatórios que ajudam a entender esse fenômeno crescente:
- Maior regulação e normalização das apostas online: desde 1º de janeiro de 2025, foi oficialmente regulamentada a prática de apostas de quota fixa (bets), o que pode ter contribuído para legitimar seu uso.
- Facilidade tecnológica: o acesso via celular e aplicativos torna impulsiva a participação em jogos e apostas.
- Busca por renda ou ganho rápido: muitos começam apostando com a expectativa de retorno fácil, o que é um caminho traiçoeiro.
- Influência cultural e redes sociais: anúncios, propagandas e conteúdos de influenciadores podem encorajar apostas.
Como a comunidade cristã pode responder
Para aqueles que desejam agir de forma saudável e piedosa perante essa realidade, algumas estratégias são recomendadas:
- Educação e conscientização em igrejas: promover palestras, estudos e momentos de diálogo sobre finanças saudáveis e riscos do vício em apostas.
- Aconselhamento individual e pastoral: abrir espaço para que membros compartilhem suas lutas sem serem julgados.
- Recursos de apoio profissional: indicar psicólogos, terapeutas especializados ou grupos de apoio para dependência comportamental.
- Testemunho e exemplos práticos: pessoas que superaram o problema podem encorajar outros com transparência e humildade.
- Orar pela libertação: vigiar em oração para que Deus intervenha providencialmente.
Riscos espirituais e morais
Do ponto de vista bíblico e espiritual, há alertas pertinentes:
• Dependência e idolatria do dinheiro: a aposta cria dependência — o crente pode confiar no acaso em vez de Deus.
• Tomada de decisões irracionais: o vício em apostas corrói a sabedoria e a estabilidade, gerando prejuízos que afetam família, finanças e saúde emocional.
• Ruptura de testemunho: alguém que afirma seguir Jesus, mas pratica algo condenado pela Escritura (como jogos de azar) pode perder credibilidade espiritual diante de outros cristãos e do mundo.
Estatísticas em foco: os números que não podemos ignorar
Veja alguns dados relevantes que ajudam a dimensionar a gravidade da situação:
- 41% — percentual de evangélicos que já apostaram em “bets”
- 34% — percentual de católicos que já apostaram segundo a mesma pesquisa
- 35% — fração de apostadores (evangélicos e católicos) que afirmam ter dívidas por causa das apostas :contentReference[oaicite:7]{index=7}
- 36% — parcela da população brasileira com mais de 16 anos que já usou apostas online
- Maior crescimento anual na adesão a apostas: de 24% para 36%
Desafios e resistências no meio cristão
É importante reconhecer que muitos cristãos, mesmo contrariando sua fé, acabam sucumbindo a apostas. Eis alguns obstáculos:
- Vergonha ou medo: muitos não revelam suas lutas por receio de censura.
- Minimização do problema: dizer “é só diversão” ou “só uma vez” abre espaço para deslizes.
- Isolamento espiritual: quem sofre com vício muitas vezes se afasta de comunhão e oração.
- Falta de preparo ministerial: nem todas as igrejas estão prontas para lidar com essas questões comportamentais.
Chamado à ação: fé que age
Não basta apenas saber; é necessário agir com compaixão e discernimento. Eis sugeridos alguns passos para cristãos e igrejas:
- Iniciar campanhas de conscientização ou séries de estudo bíblico sobre finanças e dependência.
- Formar equipes de acompanhamento (pastoral, discipulado, finanças) que possam dialogar com vulneráveis.
- Encaminhar pessoas com graves dependências a profissionais qualificados.
- Desenvolver redes de suporte — grupos de oração, testemunhos e prestação de contas mútua (accountability).
- Manter vigilância espiritual sobre o uso de redes sociais, jogos e tentações que possam favorecer apostas.
Este não é apenas um tema estatístico ou social — é um desafio espiritual. O avanço das apostas nas camadas cristãs exige mais atenção, compaixão e ação da igreja. Não podemos ignorar o fato de que muitos irmãos e irmãs estão sofrendo em silêncio, presos por algo que começou como “brincadeira”.
“Se, porém, alguém domina o seu espírito, melhor é do que conquistar uma cidade.” — Provérbios 16:32
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Versículo de encerramento: “Não vos associeis às obras infrutuosas das trevas, antes, condenai-as.” — Efésios 5:11
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